sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Fevereiro de 1995

As estrelas de fevereiro nunca estiveram tão bonitas como naquele ano. O céu sempre tão estrelado, tão bonito, tão vivo. Naquele ano New York era tudo pra mim, as pessoas, o ar... Eu era apaixonado por tudo aquilo, mas mais apaixonado ainda, eu era por alguém, seu nome? Era Charlie e ela tinha um jeito diferente do normal: não era a mais inteligente, nem a mais bonita. Não era a mais compreensiva e nem a mais engraçada. Mas era a mais única, se é que me entendem. Daria pra fazer um livro só daquele inverno que passamos juntos em dezembro. Só tenho a declarar que meu amor por ela era e é muito grande, sem dimensões. E quem sabe o que poderia acontecido se ela não tivesse ido embora?
Eu, um simples guitarrista de um banda que não teria chances de sair do anonimato e ela, uma estudante de Engenharia. Na verdade, eu sempre fui egoísta e não iria abandoná-la pra ela seguir em frente, mas confesso que tinha medo de atrapalhá-la. Charlie fazia parte das estrelas de fevereiro. Naquele mês completávamos um ano de namoro, amizade e companheirismo porque era o que éramos: não éramos só dois namorados, éramos dois irmãos. E como dois irmãos siameses, eu repudiava a idéia de vê-la indo embora.
Naquele dia as estrelas estavam mais do que lindas no céu. Pareciam querer completar o cenário perfeito do nosso aniversário de namoro. Comprei rosas e uma corrente com um pingente de uma guitarra nele. Lembro de que quando ela viu aquilo, ela adorou. Então decidi que no nosso aniversário de namoro iria dar aquilo pra ela. De tarde, liguei pra ela e pedi pra que ela fosse se encontrar comigo, mas sua voz no telefone era seca, digo isso porque acabo de perceber, na hora eu não liguei. Me arrumei rumo à noite mais inesquecível da minha vida.
E lá vinha vindo ela, mas não estava arrumada, aliás, estava com uma calça de moletom e uma blusa. Com os braços cruzados e com os seus olhos castanhos fixados nos meus olhos. Ali tive certeza de que estava havendo alguma coisa então fora apenas uma única frase ‘Me desculpe, mas não o amo mais. ’, foi o que ela disse e foi embora. A corrente e as flores caíram no chão e o meu mundo caiu por terra. Achei que estivesse brincando, mas ela estava falando sério. E não parecia sofrer por aquilo ela simplesmente se desculpou e disse que naquele dia, quando acordou e olhou pra nossa foto em cima da escrivaninha ao lado da cama, simplesmente percebera que não me amava mais.
É tudo muito diferente, nada do jeito que você quer, nada do jeito que você precisa, nada do jeito que você deseja. Tudo do jeito que os outros querem: nada depende de você. Tudo seria do jeito que eles queriam e nada nem ninguém poderia mudar aquilo. E tudo foi muito contraditório: ela me esqueceu de um dia pro outro, e mesmo após anos, eu não consigo esquecê-la.
E era só o tempo, se pensar bem. Tudo acabaria. Mais cedo ou mais tarde, durando muito tempo ou pouco tempo. Tudo acabaria. Simples e doloroso, invisível e fatal. O amor não é eterno, e nada dura para sempre, mas as cicatrizes, ela duram mais que a esperança, amor, vida ou carinho; elas duram mais que qualquer coisa que as pessoas inventaram pra se sentir confortáveis nesse imenso mundo onde nem sempre o céu é cheio de
estrelas.
.
.
"February stars
Floating in the dark
Temporary scars
February stars"
Foo F i g h t e r s (♫)